Incubox: quando a juventude se torna futuro
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Moçambique vive um momento em que discutir inclusão deixou de ser retórica para se tornar necessidade. A desigualdade social, o desemprego juvenil e a exclusão económica estão no centro das tensões que marcam várias regiões do país. Por isso é fundamental olhar para exemplos que não se ficam por relatórios em inglês técnico ou pela espuma da cooperação internacional. O Incubox, concebido e implementado pela Gapi-SI, é um desses casos em que o discurso se transforma em prática.
A juventude é hoje a maior riqueza de Moçambique. Mas continua a ser tratada como promessa distante, sobretudo em territórios onde abundam recursos e oportunidades, mas onde a população local sente, demasiadas vezes, que não tem lugar à mesa. É aqui que o Incubox faz a diferença: transforma ideias em negócios, capacita jovens, cria pequenas empresas e mostra que é possível ligar crescimento económico e inclusão social no mesmo processo.
Não se trata de um programa experimental ou ocasional. O Incubox é o quinto projeto que a Gapi desenvolve em quinze anos com foco direto na juventude e no empreendedorismo. E os resultados não são marginais: só no primeiro ciclo, 116 jovens passaram por programas de incubação com formação em gestão de negócios, fundos de arranque para testar ideias e apoio de 26 mentores. Foram instaladas 12 incubadoras equipadas, 36 estagiários integraram-se em empresas locais e dezenas de negócios começaram a ganhar forma nos setores de processamento de alimentos, comércio, beleza e transporte. Ou seja: impacto direto, mensurável, que cria emprego e rendimento em localidades onde para a juventude a única esperança é migrar para um grande centro urbano ou cair na armadilha dos que oferecem “jobs” lá longe..
É neste contexto que surge Palma. Um distrito com enormes fragilidades, mas também com um potencial económico estratégico. A recém entrada do Incubox ali não é exceção, mas continuidade de uma lógica que já mostrou resultados em localides de Nampula e Niassa. A experiência passada indica o que pode ser alcançado: dar voz aos jovens, criar oportunidades reais e devolver confiança às comunidades.
O Incubox é implementado pela Gapi-SI em parceria com a Fundação Aga Khan e com cofinanciamento da União Europeia. Uma combinação que junta experiência nacional com confiança internacional. Mas aqui entra a reflexão crítica. Durante demasiado tempo, os fundos da cooperação internacional têm seguido um caminho previsível: são entregues a organizações com acesso privilegiado aos corredores de decisão nos centros financeiros e políticos globais. Daí nasceu uma verdadeira indústria da cooperação, que vive da gestão de projetos, contrata consultores, escreve relatórios vistosos, mas deixa pouco ou nada no terreno.
O requisito de canalizar verbas quase exclusivamente para entidades not for profit é um exemplo desta armadilha. Na teoria, garante neutralidade e transparência. Na prática, cria privilégios para estruturas externas que rodam de projeto em projeto sem consolidar instituições nacionais. É um modelo que favorece intermediários em vez de resultados sustentáveis.
O Incubox prova o contrário. A Gapi-SI não é um apêndice da cooperação, é uma instituição financeira de desenvolvimento moçambicana com governação comprovada, disciplina de gestão e presença consolidada no território. E mostra que, quando os projetos são concebidos a partir de dentro, o conhecimento fica no país, os resultados ganham continuidade e a responsabilização é direta.
É aqui que está a diferença fundamental: apostar em instituições nacionais sólidas é mais do que justiça ou soberania. É a forma mais eficaz de transformar fundos internacionais em desenvolvimento real. O Incubox não é apenas um projeto de incubação. É a prova de que Moçambique tem capacidade para criar soluções inovadoras para os seus problemas, se tiver espaço e meios para o fazer.
Os números impressionam, mas o que mais importa são as vidas transformadas. Jovens que ontem tinham apenas uma ideia hoje gerem negócios formais. Comunidades que antes dependiam da ajuda externa agora criam rendimento local. Famílias que viviam da incerteza ganham novas perspetivas.
Num país onde tantas vezes se fala de exclusão, o Incubox oferece outra narrativa: a da inclusão como prática concreta, diária e estruturada. Onde muitos veem risco, aqui aparece oportunidade. Onde se semeava desconfiança, aqui cresce confiança. É esse o valor de um programa que não se limita a incubar negócios, nem promete distribuir dinheiros fáceis a quem não demonstra capacidade e empenho para empreender e gerar mais empregos. Incuba o futuro de Moçambique.
Rui Pinto Martins
